segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A fala da Ana (continuação de Ana honesta - uma crônica-desabafo)

"Queria saber  porque a gente está aqui nesse mundo". Ana me respondeu sem hesitar à questão: "O que você gostaria de perguntar para Deus?". Já ouvi várias pessoas que têm a mesma indagação. Mas quando me proponho a dar uma resposta, elas não parecem crer que seja possível. Foi diferente com Ana.

Essa menina tinha uma dúvida genuína. Estava em busca de algo e por sua busca ser tão forte ela estava aberta a qualquer pessoa que lhe desse alguma luz. Naquele dia fui eu. Não sei como foi antes. Mas naquele momento eu vi dois olhos que pareciam brilhar enquanto eu falava do plano de Deus. Falei e falei. Até que percebi que estava falando demais. Joguei a bola para Ana. O que ela achava de tudo isso? A partir daqui vou deixar vocês com Ana.

***

O que eu penso sobre tudo isso? Eu ainda não sei muito bem. Sei que há muito tempo tenho buscado algum significado para a minha vida. Eu não estou satisfeita, sabe? Para ser bem sincera, eu estou quase me cansando de buscar. Já fiz tanta coisa, mesmo com meus apenas vinte e poucos de idade. Eu tento lutar pelo ideal de um mundo melhor, ainda acredito nisso. Mas essa luta não me preenche. Simplesmente, olho para os lados e parece que ninguém de verdade se importa com isso.

Entrei na faculdade porque pensava que aqui eu  ia encontrar esse espaço. Mas tudo o que eu vejo são pessoas egoístas. Cada um pensando apenas nos seus objetivos de vida. A maior parte dos estudantes não vêem a hora de se formar e conseguir seu sonhado emprego público. Que dizem ser a ocupação perfeita: boa remuneração e pouco trabalho. Nos fins de semana eles esquecem um pouco essas ambições se lançando no máximo de festas até chegar a segunda-feira. Os professores vivem em uma eterna disputa de egos, um querendo provar para o outro quem é o maior nesse mundinho tão pequeno que é a Academia. Eu não me encaixo nisso. Já tentei, mas não consigo. Tem que existir um motivo maior para viver. Não posso acreditar que a vida se resume à coisas tão passageiras.

E aí você vem e me fala que Deus é quem pode dar esse sentido maior. Não sei o que pensar. Sempre pensei que Deus estivesse à parte de tudo isso. Nunca pensei que ele poderia ser a resposta. Desde que entrei na faculdade aprendi que o conhecimento é a resposta e que Deus ou religião a gente deixa lá fora, de preferência a gente até deveria desistir dessas idéias, porque servem apenas para menos esclarecidos. Eu entrei aqui com alguns valores religiosos que minha família me deu, mas eles nunca foram muito fortes para mim então, quer saber? Foi muito fácil nem pensar muito a respeito e correr para outras coisas que me diziam que dariam certo. Me tornei uma pessoa mais consciente com o meio ambiente, me filiei ao Centro Acadêmico. Tô fazendo a minha parte para ver se alguma coisa muda.

Como é que Deus pode mesmo está tão interessado em alguém como eu? Ele não é tão grande? Ele não estaria longe demais desse mundo louco em que vivemos?

[Vou ficar por aqui. No próximo post eu falo sobre como terminou a nossa conversa.]

2 comentários:

  1. Quero saber o resto. hehe

    Carol, obrigada pelo comentário. Sei que vc está por aqui e que posso contar com vc. Obrigada pelo seu carinho. :)

    Beijinhos.

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  2. Muito legal Carol! Vc está descrevendo essa conversa com todo o encanto e mistério de um bom livro! Será que temos uma futura escritora por aí??

    Beijos e saudades!
    Susan.

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