segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um tapa na rua

Como missionária em Fortaleza sou consequentemente uma transeunte da cidade. E por aqui, pelo menos por enquanto, eu me desloco de ônibus,de "topic" (que corresponde ao microônibus carioca)ou a pé mesmo. Apesar de ser mais confortável andar de carro (e sonho com o dia em que poderei dirigir o meu), ser uma pedestre também tem suas vantagens. Eu tenho conhecido a cidade como alguém que anda por ela. Que pisa nas poças de água, que fica com as sandálias empoeiradas. Tá, tudo bem, até agora talvez não tenha conseguido escrever nenhuma vantagem.

Ser uma pedestre é vantajoso porque eu posso andar na rua e pensar na vida enquanto ando. Dentro do ônibus, eu posso olhar a paisagem ou então olhar para aqueles desconhecidos que estão ali dentro e imaginar como eles realmente são. Se você escolhe uma topic inevitavelmente vai conhecer mais sobre o gosto musical daqui. Na certa o som será do forró eletrônico truando (o jeito cearense de dizer "bombando") no seu ouvido. Foi andando de Topic que descobri: no forró tudo se copia. Pense em uma música que está nas paradas, pode ser nacional ou internacional. Pode acreditar: tem uma versão em forró dela. Os caras do forró não perdem tempo não.

Dia desses, e aqui entra a parte não tão legal em ser pedestre, eu estava endando pelas ruas do centro da cidade. E eu me arrisquei a falar no celular. Na minha frente avistei um morador de rua, que tinha apenas uma perna, saltitando na calçada. Ele vinha na minha direção. Eu vi que alguma coisa não ía bem. A cada pulinho ele batia palma e gritava alguma coisa. Mas mesmo assim, eu ingenuamente decidi me manter no mesmo caminho que pretendia seguir. Daí quando ele passou do meu lado, me deu um tapão no braço. Assim, gratuitamente mesmo. Por essa eu não esperava. Mas foi algo tão inusitado que eu fiquei sem reação. O cara seguiu saltitante virando a esquina. Algumas pessoas me procuram, indagando se estava tudo bem. Pensaram que ele tinha levado meu celular. Dessa eu escapei.

Depois segui o caminho da roça rumo ao campus da UECE (Universidade Estadual do Ceará)e cruzei a cidade. Era só a metade do meu dia. Eu e minha mochila roxa ainda iríamos para dois pontos diferentes da cidade até o fim do dia.

Termino esse post meio aleatório dizendo que andar em Fortaleza pode ser de alguma forma de protesto. No bairro em que estou morando agora tem muitas ruas desertas, as pessoas se trancam em casa com medo da violência que tem crescido na cidade. Sair só de carro. Um protesto à violência pode muito bem ser ao invés de nos trancarmos andarmos por aí fazermos dos espaços públicos lugares com mais simpáticos e com mais gente.